quarta-feira, 17 de abril de 2013



PAULO FREIRE E O MÉTODO CONSTRUTIVISTA

1          Trajetória histórica
O grande educador Paulo Freire, desde a infância, como órfão, até a sua formação, desempenhou um grande trabalho na área da educação. De infância sofrida, sabe o significado da luta pela sobrevivência e é justamente inserido neste processo que percebe que só buscando superar a situação de oprimido o ajudará a viver igual com seus pares. Neste contexto histórico, surge o projeto de alfabetização realizada no estado do Rio Grande do Norte, que consegue em quarenta e cinco dias alfabetizar trezentos camponeses.
Com o golpe de 1964, Freire é preso, pois é considerado subversivo, porém, sua obra de alfabetização já havia ganhado reconhecimento internacional, consagrando-o como grande educador, sobretudo no que diz respeito ao processo de alfabetização.
Freire compreende o homem como ser inacabado, sempre pronto para aprender e ensinar, sempre num processo de transformação da sua vida pessoal e social. Neste processo de aprendizagem, o homem que muitas vezes é marcado por uma sociedade opressora, passa toda sua vida pensando ser isto vontade divina, coisa do destino. Tudo isso advém da ideia que tem do ambiente em que vive que não o faz pensar em outra forma de vida. Assim o processo educativo trata-se de um processo de descoberta do sentido da vida, fazendo a pessoa sentir sinais de esperança e despertar para outra forma de pensar a vida. Pensar a vida é abrir os olhos para a liberdade, que significa sair da opressão para o direito de fazer a sua própria história. O próprio Freire afirma (2011, p. 25):
Não devo julgar-me, como profissional, “habitante” de um mundo estranho; mundo de técnicos e especialistas salvadores dos demais, donos da verdade, proprietários do saber, que devem ser doados aos “ignorantes e incapazes”. Habitantes de um gueto, de onde saio messianicamente para salvar os “perdidos”, que estão fora. Se procedo assim, não me comprometo verdadeiramente como profissional nem como homem. Simplesmente me alieno.

O processo se dá por meio de uma educação participativa, que visa inserir o homem no contexto educacional e no meio social com todas as suas problemáticas. A partir desta atitude educacional, sendo todos protagonistas do aprendizado, acontece o tão sonhado processo de aprendizagem libertadora.

2          A participação do educador no processo educativo
A problemática da falta de conscientização das camadas mais pobres da sociedade, que são oprimidas ao extremo, reconhecendo a desumanização, não como viabilidade ontológica, mas como realidade histórica. Há desumanização num contexto real e objetivo. Tal desumanização se dá não simplesmente em sua humanidade roubada, mas na tirada da possibilidade da vocação ao ser mais. A opressão é apresentada como problema crônico social, visto que as camadas menos favorecidas são oprimidas e terminam aceitando o que lhes é imposto.
A libertação é um parto, pois é na superação da opressão que há libertação da condição de servo. As pessoas obedecem a ordens, não questionam, não lutam pela sua libertação, há um medo de transformar a realidade em que vivem. No seu livro a Pedagogia do oprimido (1996, p. 78) afirma:

Como professor se minha opção é progressista e venho sendo coerente com ela, se não posso permitir a ingenuidade de me pensar igual ao educando, de desconhecer a especificidade da tarefa do professor, não posso por outro lado, negar que o meu papel fundamental é contribuir positivamente que o educando vá sendo o artífice de sua formação com a ajuda necessária do educador.”

Para o opressor é muito cômodo que o oprimido continue em sua condição de domesticado, sendo bem mais cômodo para quem manda. A pedagogia do oprimido busca uma restauração da pessoa, da sua humanidade, propondo o surgimento de sujeitos críticos no comprometimento com a sua ação na história. É nesta relação dialética da subjetividade e objetividade que implica a transformação total, ou seja, transformar a teoria e prática.
Desta forma a libertação não é um processo de um só, mas é a luta de todos juntos, em comunhão. É nesta corrente de união de forças, lutando por um processo libertador que se dá a libertação das opressões.
A concepção de uma educação bancária é apresentada como instrumento de opressão, é sustentado por uma cúpula dos que sabem tudo e precisam simplesmente repetir para os que nada sabem, dando sustentação a suas próprias ideologias opressoras. Tal concepção apresenta o aluno como aquele que recebe depósitos na mente, armazenando tudo aquilo que diz o professor[1].
Esse processo é visto pelo autor como alienação, não havendo criatividade alguma, imperando a cultura do silêncio, onde o aluno sujeito passivo não participa do processo educativo. A superação deste modelo, que coloca em contradição a figura do educador e do educando, vem colocar em destaque que ninguém educa ninguém, o processo educativo se dá na interação de uns com os outros, na troca das experiências do saber, sendo uns educados pelos outros. Nesta dinâmica o homem se coloca como aquele que busca sempre conhecer mais, e este conhecimento se dá justamente neste movimento constante.   

3          O método participativo e a preparação do educador para atuar neste processo

Na sua obra, Pedagogia da Autonomia[2], explicando suas razões para analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando, enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que formar é muito mais do que treinar o educando no desempenho de suas tarefas. Define essa postura como ética e defende a ideia de que o educador deve buscar essa ética, a qual chama de "ética universal do ser humano”, essencial para o trabalho docente.
A arte de ensinar traz consigo determinados aspectos que devem chamar a atenção tanto do educador como do educando, visto ser um processo que exige o uso de método. Tal atitude deve vir acompanhada sempre de uma vontade de pesquisar, respeitando, sobretudo o que se encontra como saber no educando, mas com uma criticidade aguçada. O educador neste diapasão é aquele que é chamado a ter uma vida ética onde há uma corporificação das palavras na vida, sendo um exemplo para os seus educandos.
Para que seja realmente parte deste processo, buscará sempre uma atitude de acolhimento sem nenhuma forma de descriminação, assumindo sempre a sua identidade cultural. O professor não é superior, melhor ou mais inteligente, porque domina conhecimentos que o educando ainda não domina, mas é, como o aluno, participante do mesmo processo da construção da aprendizagem.
Ensinar não é o simples fato de transferir conhecimentos, mas exige sempre uma consciência do inacabado, respeitando assim a autonomia de cada educando, deixando-o fazer parte deste processo não como mero espectador, mas, participante ativo, construtor do processo em que está inserido.

TEXTO: Parte da minha monografia, apresentada como conclusão do curso de Metodologia do Ensino Superior. Pe. José Émerson.


[1] O educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se um depósito do educador. Educa-se para arquivar o que se deposita. Mas o curioso é que o arquivado é o próprio homem, que perde assim seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça. O destino do homem deve ser criar e transformar o mundo sendo o sujeito de sua ação. A consciência bancária “pensa que quanto mais se der mais se sabe”. Mas a experiência revela que com este mesmo sistema só se formam indivíduos medíocres, porque não há estímulo para a criação. Por outro lado, quem aparece como criador é um inadaptável e deve nivelar-se aos medíocres. O professor arquiva conhecimento porque não concebe como buscar e não buscar, porque não é desafiado pelos seus alunos. Em nossas escolas se enfatiza muito a consciência ingênua.” (Freire, Paulo, Educação e Mudança: Prefácio Moacir Gadotti; tradução Lilian Lopes Martins. 34. ed. ver. e atual. São Paulo: Paz e Terra, 2011).
[2] Freire, Paulo. Educação e Mudança: Prefácio Moacir Gadotti; tradução Lilian Lopes Martins. 34. ed. ver. e atual. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário