PAULO FREIRE E O MÉTODO CONSTRUTIVISTA
1 Trajetória histórica
O
grande educador Paulo Freire, desde a infância, como órfão, até a sua formação,
desempenhou um grande trabalho na área da educação. De infância sofrida, sabe o
significado da luta pela sobrevivência e é justamente inserido neste processo
que percebe que só buscando superar a situação de oprimido o ajudará a viver
igual com seus pares. Neste contexto histórico, surge o projeto de
alfabetização realizada no estado do Rio Grande do Norte, que consegue em
quarenta e cinco dias alfabetizar trezentos camponeses.
Com
o golpe de 1964, Freire é preso, pois é considerado subversivo, porém, sua obra
de alfabetização já havia ganhado reconhecimento internacional, consagrando-o
como grande educador, sobretudo no que diz respeito ao processo de
alfabetização.
Freire
compreende o homem como ser inacabado, sempre pronto para aprender e ensinar,
sempre num processo de transformação da sua vida pessoal e social. Neste
processo de aprendizagem, o homem que muitas vezes é marcado por uma sociedade
opressora, passa toda sua vida pensando ser isto vontade divina, coisa do
destino. Tudo isso advém da ideia que tem do ambiente em que vive que não o faz
pensar em outra forma de vida. Assim o processo educativo trata-se de um
processo de descoberta do sentido da vida, fazendo a pessoa sentir sinais de
esperança e despertar para outra forma de pensar a vida. Pensar a vida é abrir
os olhos para a liberdade, que significa sair da opressão para o direito de
fazer a sua própria história. O próprio Freire afirma (2011, p. 25):
Não devo julgar-me,
como profissional, “habitante” de um mundo estranho; mundo de técnicos e
especialistas salvadores dos demais, donos da verdade, proprietários do saber,
que devem ser doados aos “ignorantes e incapazes”. Habitantes de um gueto, de
onde saio messianicamente para salvar os “perdidos”, que estão fora. Se procedo
assim, não me comprometo verdadeiramente como profissional nem como homem.
Simplesmente me alieno.
O
processo se dá por meio de uma educação participativa, que visa inserir o homem
no contexto educacional e no meio social com todas as suas problemáticas. A
partir desta atitude educacional, sendo todos protagonistas do aprendizado,
acontece o tão sonhado processo de aprendizagem libertadora.
2 A participação do educador no processo
educativo
A
problemática da falta de conscientização das camadas mais pobres da sociedade,
que são oprimidas ao extremo, reconhecendo a desumanização, não como
viabilidade ontológica, mas como realidade histórica. Há desumanização num
contexto real e objetivo. Tal desumanização se dá não simplesmente em sua
humanidade roubada, mas na tirada da possibilidade da vocação ao ser mais. A
opressão é apresentada como problema crônico social, visto que as camadas menos
favorecidas são oprimidas e terminam aceitando o que lhes é imposto.
A
libertação é um parto, pois é na superação da opressão que há libertação da
condição de servo. As pessoas obedecem a ordens, não questionam, não lutam pela
sua libertação, há um medo de transformar a realidade em que vivem. No seu
livro a Pedagogia do oprimido (1996, p. 78) afirma:
Como professor se
minha opção é progressista e venho sendo coerente com ela, se não posso
permitir a ingenuidade de me pensar igual ao educando, de desconhecer a
especificidade da tarefa do professor, não posso por outro lado, negar que o
meu papel fundamental é contribuir positivamente que o educando vá sendo o
artífice de sua formação com a ajuda necessária do educador.”
Para
o opressor é muito cômodo que o oprimido continue em sua condição de
domesticado, sendo bem mais cômodo para quem manda. A pedagogia do oprimido
busca uma restauração da pessoa, da sua humanidade, propondo o surgimento de
sujeitos críticos no comprometimento com a sua ação na história. É nesta
relação dialética da subjetividade e objetividade que implica a transformação
total, ou seja, transformar a teoria e prática.
Desta
forma a libertação não é um processo de um só, mas é a luta de todos juntos, em
comunhão. É nesta corrente de união de forças, lutando por um processo
libertador que se dá a libertação das opressões.
A
concepção de uma educação bancária é apresentada como instrumento de opressão,
é sustentado por uma cúpula dos que sabem tudo e precisam simplesmente repetir
para os que nada sabem, dando sustentação a suas próprias ideologias
opressoras. Tal concepção apresenta o aluno como aquele que recebe depósitos na
mente, armazenando tudo aquilo que diz o professor[1].
Esse
processo é visto pelo autor como alienação, não havendo criatividade alguma,
imperando a cultura do silêncio, onde o aluno sujeito passivo não participa do
processo educativo. A superação deste modelo, que coloca em contradição a
figura do educador e do educando, vem colocar em destaque que ninguém educa
ninguém, o processo educativo se dá na interação de uns com os outros, na troca
das experiências do saber, sendo uns educados pelos outros. Nesta dinâmica o
homem se coloca como aquele que busca sempre conhecer mais, e este conhecimento
se dá justamente neste movimento constante.
3 O método participativo e a preparação do
educador para atuar neste processo
Na
sua obra, Pedagogia da Autonomia[2], explicando suas razões
para analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e
de saber do educando, enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o
aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da
compreensão de que formar é muito mais do que treinar o educando no desempenho
de suas tarefas. Define essa postura como ética e defende a ideia de que o
educador deve buscar essa ética, a qual chama de "ética universal do ser
humano”, essencial para o trabalho docente.
A
arte de ensinar traz consigo determinados aspectos que devem chamar a atenção
tanto do educador como do educando, visto ser um processo que exige o uso de
método. Tal atitude deve vir acompanhada sempre de uma vontade de pesquisar,
respeitando, sobretudo o que se encontra como saber no educando, mas com uma
criticidade aguçada. O educador neste diapasão é aquele que é chamado a ter uma
vida ética onde há uma corporificação das palavras na vida, sendo um exemplo
para os seus educandos.
Para
que seja realmente parte deste processo, buscará sempre uma atitude de
acolhimento sem nenhuma forma de descriminação, assumindo sempre a sua
identidade cultural. O professor não é superior, melhor ou mais inteligente,
porque domina conhecimentos que o educando ainda não domina, mas é, como o
aluno, participante do mesmo processo da construção da aprendizagem.
Ensinar
não é o simples fato de transferir conhecimentos, mas exige sempre uma
consciência do inacabado, respeitando assim a autonomia de cada educando,
deixando-o fazer parte deste processo não como mero espectador, mas,
participante ativo, construtor do processo em que está inserido.
TEXTO:
Parte da minha monografia, apresentada como conclusão do curso de Metodologia do
Ensino Superior. Pe. José Émerson.
[1]
O educando recebe passivamente
os conhecimentos, tornando-se um depósito do educador. Educa-se para arquivar o
que se deposita. Mas o curioso é que o arquivado é o próprio homem, que perde
assim seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça. O destino do homem
deve ser criar e transformar o mundo sendo o sujeito de sua ação. A consciência
bancária “pensa que quanto mais se der mais se sabe”. Mas a experiência revela
que com este mesmo sistema só se formam indivíduos medíocres, porque não há
estímulo para a criação. Por outro lado, quem aparece como criador é um
inadaptável e deve nivelar-se aos medíocres. O professor arquiva conhecimento
porque não concebe como buscar e não buscar, porque não é desafiado pelos seus
alunos. Em nossas escolas se enfatiza muito a consciência ingênua.” (Freire,
Paulo, Educação e Mudança: Prefácio Moacir Gadotti; tradução Lilian Lopes
Martins. 34. ed. ver. e atual. São Paulo: Paz e Terra, 2011).
[2]
Freire, Paulo. Educação e
Mudança: Prefácio Moacir Gadotti; tradução Lilian Lopes Martins. 34. ed. ver. e
atual. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
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