sexta-feira, 19 de abril de 2013



NOVENTA ANOS DO Pe. JOÃO VANDEBEEK.  – Parte II

Bom, é claro que o tempo vai passando e em nossa vida tudo que vamos escolhendo vai solidificando-se em nosso interior, e de fato, surge agora a concretização seu desejo de ser missionário e assim, por volta da década de 60, João vem ao Brasil pra dedicar a sua vida a este povo.
Meio acanhado, tímido, com a fala enrolada, mesmo assim chega aquele missionário e que desde já encanta com o seu jeito de ser firme, mas amoroso com o povo que iria trabalhar. E logo após sua chegada, passados alguns tempos, eis que certo confrade seu, por nome de Pe. Matias Lemmens, que trabalhava numa paróquia da congregação localizada no interior de Pernambuco, numa cidade chamada Garanhuns, bate às portas da sede provincial no bairro da várzea, em Recife, e pede ao seu superior que envie um colaborador, pois o seu trabalho na dita paróquia era muito grande e que necessitava urgentemente de um irmão sacerdote que fosse lá colaborar. Com certeza, o diálogo do Pe. Matias tocou o superior profundamente e assim, Pe. João recebe a incumbência para ir auxiliar seu confrade nesta paróquia tão grande. Neste ínterim, toma o trem na grande estação do centro do Recife com destino à Garanhuns.
Não possuímos a data exata de sua chegada em Garanhuns, mas chegando encontra uma paróquia muito movimentada; não tarda de o Pe. Matias mostrar-lhe a pupila dos seus olhos: o Centro Social Pe. Dehon que há pouco construíra e que tinha por objetivo principal atender as pessoas pobres que ali se achegavam. Neste centro estavam funcionando o primitivo hospital infantil, um clube de mães e uma escola; quem não se lembra do Prof. Letácio?
Com tudo isso, os olhos de João se contentam e imediatamente seu coração alegra-se pois encontrara o campo de trabalho onde poderia dedicar-se ao seu ideal de doação ao povo.
Estamos dentro de um contexto onde os Padres estrangeiros gostavam de tirar suas merecidas férias em seus países de origem. Era a oportunidade que João tinha de mostrar todos os talentos que possuía.

Foto: Pe. João Vandebeek e Pe. Matias Lemmens em Maastricht- Holanda

Repetidas vezes Pe. Matias recebia licença para suas merecidas férias e enquanto isso João vai ocupando o seu espaço, visitando os doentes, fundando grupos de jovens, orientando catequistas. E quando seu amigo ia-se pra Holanda, ficava João fazendo suas vezes, até ao ponto de numa atitude prudente, trocar todo o madeiramento do telhado da Matriz, porque estava ameaçando cair; e ao mesmo tempo, coube a João a organização do maior acontecimento da Igreja em Garanhuns, as festividades dos 50 anos de criação da Paróquia de São Sebastião da Boa Vista, que mesmo com a ausência de seu pároco, esta realizou-se de 04 de setembro de 1971 a 04 de setembro do ano seguinte, sendo neste mesmo dia empossado como vigário. Foi uma alegria imensa pra João, mas como um bom missionário que era, em 26 de Novembro de 1972, aceita uma nova missão deixando em seu lugar o Pe. Felipe Werter.
Aqui o coração de João fica apertado pelo fato de deixar sua querida boa vista, não sabendo ele que o Senhor reservou para ele o caminho de volta para Garanhuns, onde em 21 de Outubro de 1973, assume novamente a sua querida paróquia, agora com todos os direitos que lhe assistiam.
Com a mesma garra de antes, retoma o seu plano pastoral, criando grupos de evangelização nas áreas urbana e rural, reativa os grupos de jovens, dá uma nova dinâmica à catequese paroquial, enfim era o que ele queria.
Coube a João reestruturar o Hospital Infantil, tendo à frente a Ir. Margarida Sobral (in memória) e o Centro Social Pe. Dehon com as escolas doméstica e de datilografia, bem como a escola do ‘Professor Letácio’; é a João também que se deve a construção do Centro Comunitário Pe. Dehon, na intenção de expandir os serviços existentes no Centro Social aos mais carentes; sonho este iniciado em 01 de Outubro de 1975 e concluído, inaugurado e benzido em Março de 1976, confiando sua administração a uma jovem religiosa: Irmã Gorete.











                                                         

Seu trabalho não para por aí. Foi com João que numa brilhante ideia de melhor catequizar o povo, criou um grupo de jovens que fizesse representações teatrais das histórias bíblicas, sobretudo, do Evangelho da missa de Domingo. Foi um avanço muito considerável, a ponto de este mesmo grupo existir por vários anos. Assim, a primeira etapa da presença de João na paróquia prossegue até 09 de Dezembro 1976, quando entrega a paróquia ao seu confrade, o Pe. José Tavares.
Depois de três anos, para dar continuidade ao seu trabalho em 18 de Novembro de 1979, retorna João para a sua querida paróquia da boa vista. Segundo relatos do livro tombo paroquial, percebe-se que não há mudanças profundas, pois o seu estilo de pastorear estava consolidado. O interessante neste período é que a formação de grupos de evangelização na área rural da paróquia foi um marco de sua presença até o dia 05 de Agosto de 1985, quando de sua partida definitiva.
O “Pe. João Galego”, “Pe. João Vanderleis”, como ainda hoje é chamado por alguns que viveram àquela época, recordam que, para além de sua firmeza, que até lhe rendeu alguns contratempos e até mesmo estórias pitorescas, o seu profundo amor pelos pobres foi e é a sua marca. Quem dera que os padres mais jovens, neste assunto incluo-me, pudessem ter o vigor deste homem que hoje faz noventa anos.
Sempre tive João como um exemplo de sacerdote pra minha vida, mesmo não o conhecendo bem, profundamente- palavra tão pronunciada por ele, trago meu testemunho de quantas vezes, mesmo nas noites escuras de minha vida vocacional e agora mesmo, ministerial, trago em minha memória o seu exemplo de sacerdote bom e zeloso. Me emociono neste momento ao escrever este relato, que pode a principio ser inútil ou até mesmo muito particularizado, porém este homem chamado João em sua simplicidade, deixou-nos um exemplo, exemplo de Cristo que a vida só tem sentido se for para servir ao outro que não tem voz e nem vez, num mundo carente de Deus e do seu amor.
Por isso, saúdo a João pelo seu aniversário, com muitas bênçãos de saúde e de paz e que de fato, chego à conclusão que noventa anos não são noventa dias.
Obrigado João e PRA FRENTE! 
Mamanguape, 19 de Abril de 2013.   
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
ALVES, Alan da Silva. A presença dos Sacerdotes do Sagrado Coração na Paróquia de São Sebastião da Boa Vista (1926- 1995). João Pessoa: SAPIC, 2008. p.103-117.
CRÉDITO DAS FOTOGRAFIAS
__________________. Notas Avulsas da História Paroquial. João Pessoa: SAPIC, 2008. 
p.1-2



FONTE:Pe. Alan da Silva Alves
Sacerdote da Arquidiocese da Paraíba, estudante graduando do curso de Licenciatura em Pedagogia pelo CCAE/ UFPB,
Membro do GEPEEES (Grupo de estudos e pesquisa em educação, etnia e economia solidária da UFPB, campus IV).





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