NOVENTA ANOS DO Pe. JOÃO VANDEBEEK. – Parte II
Bom, é claro que o tempo vai passando e em
nossa vida tudo que vamos escolhendo vai solidificando-se em nosso interior, e
de fato, surge agora a concretização seu desejo de ser missionário e assim, por
volta da década de 60, João vem ao Brasil pra dedicar a sua vida a este povo.
Meio acanhado, tímido, com a fala enrolada,
mesmo assim chega aquele missionário e que desde já encanta com o seu jeito de
ser firme, mas amoroso com o povo que iria trabalhar. E logo após sua chegada,
passados alguns tempos, eis que certo confrade seu, por nome de Pe. Matias
Lemmens, que trabalhava numa paróquia da congregação localizada no interior de
Pernambuco, numa cidade chamada Garanhuns, bate às portas da sede provincial no
bairro da várzea, em Recife, e pede ao seu superior que envie um colaborador,
pois o seu trabalho na dita paróquia era muito grande e que necessitava
urgentemente de um irmão sacerdote que fosse lá colaborar. Com certeza, o diálogo
do Pe. Matias tocou o superior profundamente e assim, Pe. João recebe a
incumbência para ir auxiliar seu confrade nesta paróquia tão grande. Neste
ínterim, toma o trem na grande estação do centro do Recife com destino à
Garanhuns.
Não possuímos a data exata de sua chegada em
Garanhuns, mas chegando encontra uma paróquia muito movimentada; não tarda de o
Pe. Matias mostrar-lhe a pupila dos seus olhos: o Centro Social Pe. Dehon que
há pouco construíra e que tinha por objetivo principal atender as pessoas
pobres que ali se achegavam. Neste centro estavam funcionando o primitivo
hospital infantil, um clube de mães e uma escola; quem não se lembra do Prof.
Letácio?
Com tudo isso, os olhos de João se contentam
e imediatamente seu coração alegra-se pois encontrara o campo de trabalho onde
poderia dedicar-se ao seu ideal de doação ao povo.
Estamos dentro de um contexto onde os Padres
estrangeiros gostavam de tirar suas merecidas férias em seus países de origem.
Era a oportunidade que João tinha de mostrar todos os talentos que possuía.
Foto: Pe. João Vandebeek e Pe. Matias Lemmens em Maastricht- Holanda
Repetidas vezes Pe. Matias recebia licença
para suas merecidas férias e enquanto isso João vai ocupando o seu espaço,
visitando os doentes, fundando grupos de jovens, orientando catequistas. E quando
seu amigo ia-se pra Holanda, ficava João fazendo suas vezes, até ao ponto de
numa atitude prudente, trocar todo o madeiramento do telhado da Matriz, porque
estava ameaçando cair; e ao mesmo tempo, coube a João a organização do maior
acontecimento da Igreja em Garanhuns, as festividades dos 50 anos de criação da
Paróquia de São Sebastião da Boa Vista, que mesmo com a ausência de seu pároco,
esta realizou-se de 04 de setembro de 1971 a 04 de setembro do ano seguinte,
sendo neste mesmo dia empossado como vigário. Foi uma alegria imensa pra João,
mas como um bom missionário que era, em 26 de Novembro de 1972, aceita uma nova
missão deixando em seu lugar o Pe. Felipe Werter.
Aqui o coração de João fica apertado pelo
fato de deixar sua querida boa vista, não sabendo ele que o Senhor reservou
para ele o caminho de volta para Garanhuns, onde em 21 de Outubro de 1973,
assume novamente a sua querida paróquia, agora com todos os direitos que lhe
assistiam.
Com a mesma garra de antes, retoma o seu
plano pastoral, criando grupos de evangelização nas áreas urbana e rural,
reativa os grupos de jovens, dá uma nova dinâmica à catequese paroquial, enfim
era o que ele queria.
Coube a João reestruturar o Hospital
Infantil, tendo à frente a Ir. Margarida Sobral (in memória) e o Centro Social Pe. Dehon com as escolas doméstica e
de datilografia, bem como a escola do ‘Professor Letácio’; é a João também que
se deve a construção do Centro Comunitário Pe. Dehon, na intenção de expandir
os serviços existentes no Centro Social aos mais carentes; sonho este iniciado
em 01 de Outubro de 1975 e concluído, inaugurado e benzido em Março de 1976,
confiando sua administração a uma jovem religiosa: Irmã Gorete.
Seu trabalho não para por aí. Foi com João que
numa brilhante ideia de melhor catequizar o povo, criou um grupo de jovens que
fizesse representações teatrais das histórias bíblicas, sobretudo, do Evangelho
da missa de Domingo. Foi um avanço muito considerável, a ponto de este mesmo
grupo existir por vários anos. Assim, a primeira etapa da presença de João na
paróquia prossegue até 09 de Dezembro 1976, quando entrega a paróquia ao seu
confrade, o Pe. José Tavares.
Depois de três anos, para dar continuidade ao
seu trabalho em 18 de Novembro de 1979, retorna João para a sua querida
paróquia da boa vista. Segundo relatos do livro tombo paroquial, percebe-se que
não há mudanças profundas, pois o seu estilo de pastorear estava consolidado. O
interessante neste período é que a formação de grupos de evangelização na área
rural da paróquia foi um marco de sua presença até o dia 05 de Agosto de 1985,
quando de sua partida definitiva.
O “Pe.
João Galego”, “Pe. João Vanderleis”, como ainda hoje é chamado por alguns
que viveram àquela época, recordam que, para além de sua firmeza, que até lhe
rendeu alguns contratempos e até mesmo estórias pitorescas, o seu profundo amor
pelos pobres foi e é a sua marca. Quem dera que os padres mais jovens, neste assunto incluo-me, pudessem ter o
vigor deste homem que hoje faz noventa anos.
Sempre tive João como um exemplo de sacerdote
pra minha vida, mesmo não o conhecendo bem, profundamente- palavra tão pronunciada por ele, trago meu testemunho de quantas
vezes, mesmo nas noites escuras de minha vida vocacional e agora mesmo,
ministerial, trago em minha memória o seu exemplo de sacerdote bom e zeloso. Me
emociono neste momento ao escrever este relato, que pode a principio ser inútil
ou até mesmo muito particularizado, porém este homem chamado João em sua
simplicidade, deixou-nos um exemplo, exemplo de Cristo que a vida só tem
sentido se for para servir ao outro que não tem voz e nem vez, num mundo
carente de Deus e do seu amor.
Por isso, saúdo a João pelo seu aniversário,
com muitas bênçãos de saúde e de paz e que de fato, chego à conclusão que
noventa anos não são noventa dias.
Obrigado João e PRA FRENTE!
Mamanguape, 19 de
Abril de 2013.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALVES, Alan da Silva.
A presença dos Sacerdotes do Sagrado Coração na Paróquia de São Sebastião da
Boa Vista (1926- 1995). João Pessoa: SAPIC, 2008. p.103-117.
CRÉDITO DAS FOTOGRAFIAS
__________________.
Notas Avulsas da História Paroquial. João Pessoa: SAPIC, 2008.
p.1-2
FONTE:Pe. Alan da Silva Alves
Sacerdote da Arquidiocese da Paraíba,
estudante graduando do curso de Licenciatura em Pedagogia pelo CCAE/ UFPB,
Membro do GEPEEES (Grupo de estudos e
pesquisa em educação, etnia e economia solidária da UFPB, campus IV).
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