sábado, 26 de maio de 2012

O cristianismo é uma questão de coração

Presidente da Renovação Carismática italiana: O mundo precisa se renovar na escola de Maria

Por Salvatore Martinez

ROMA, quinta-feira, 24 de maio de 2012 (ZENIT.org) - Precisamos do coração de Maria para ter uma nova visão sobre o nosso mundo, para andar de cabeça erguida, sem vergonha da nossa fé, glorificando a Deus "de antemão", como Maria no cântico do Magnificat, sabendo que Deus "vê e provê", certos de que a última palavra, mesmo diante dos escândalos e dos maiores sofrimentos, cabe sempre ao Senhor.

A Igreja precisa de um novo coração; a Europa e o mundo precisam de um novo coração, para que uma nova evangelização tenha início: vamos tentar nós mesmos, como os primeiros, nos transformar desde agora nestes "novos corações", aprendendo de Maria.

O cristianismo é um assunto do coração! "Uma história de amor além de todos os limites", lembrou o papa Bento XVI em Verona, em 2006, no IV Congresso Eclesial Nacional [italiano]. A Palavra de Deus é palavra de amor escrita para os homens; ela se adapta, natural e sobrenaturalmente, mais ao coração do que à mente.

Em 11 de maio de 1970, o servo de Deus Paulo VI rezava: "Vinde, Espírito Santo, e dai-nos um coração grande, aberto à vossa silenciosa e poderosa palavra inspiradora; um coração fechado para todas as ambições mesquinhas; um coração forte para amar a todos, para servir a todos, para sofrer com todos; um só coração, feliz de palpitar com o coração de Deus".

Estas expressões me parecem um "retrato mariano". Elas pintam a natureza divina do coração humano, quando ele se deixa iluminar e permear pelo Espírito Santo.

O coração de Jesus e o coração de Maria se unem pela união mais íntima de espírito e de vontade. Se dos primeiros cristãos está escrito que eram "um só coração e uma só alma" (At 4, 32), quanto mais Jesus e Maria.

Maria não pode acaso dizer: "O coração do meu filho é o meu coração e eu tenho um só coração com ele"? O coração de Jesus, que é o Espírito Santo, é o coração de Maria. É o que escreveu São João Eudes, fundador da Congregação de Jesus e Maria, consagrada ao Coração de Maria.

O que devemos nos indagar é: como está o meu coração, onde está o meu coração, o que faz o meu coração? Questões importantes, numa época sempre mais seca de valores espirituais, porque o mundo deixou de "cultivar o coração", a intimidade com Deus, a internalização da sua palavra, o primado da interioridade.

Quando Deus escolhe evangelizadores, quando insistentemente nos chama a ser testemunhas do seu amor, ele olha para o coração do homem. O que aconteceu com Maria, tão perfeito e único, acontece agora, em diferentes graus, conosco, assim como também aconteceu pelos séculos com muitos amigos de Deus que viveram antes da vinda de Maria.

Moisés, chefe de Israel e legislador, foi escolhido por causa do seu coração, não da sua dialética, porque era gago.

Davi foi escolhido pelo profeta Samuel e ungido rei de Israel por causa do seu coração, não da sua nobreza de classe ou formação militar, coisas estranhas a ele.

Jeremias e Timóteo foram eleitos profetas por causa do seu coração, não da experiência ou da sabedoria adquiridas, pois eram jovens demais.

Maria, da qual nasceria o Rei dos reis, não foi escolhida em uma cidade renomada, dentre as moças mais afamadas. Ela foi eleita Mãe de Deus por causa do seu coração.

Não por acaso, é justamente o coração de Maria o que logo aparece no seu famoso regozijo diante de Deus. O Magnificat (cf. Lc 1, 46-55) é o cantar do coração, da inteligência do coração. No Magnificat, Deus se revela ao coração de uma serva humilde, porque a razão humana, porque o homem não sujeito ao poder do amor, nunca poderá cantar as verdades contidas no Magnificat.

É o coração que pensa, que relê, que concebe projetos, que toma decisões, que assume responsabilidades, que encara desafios, que procura a fraternidade. É o coração que desempenha o papel central na nossa vida exterior e encarna a plenitude da vida espiritual e material juntas.

O homem "sem coração" é o verdadeiro ateu, porque Deus é amor. Só aqueles que não querem amar rejeitam Deus. É ateia uma política sem coração; é ateia uma economia sem coração; é ateia uma cultura sem coração; é ateia uma solidariedade sem coração; é ateia uma família sem coração. Sem o coração, o amor não se torna relação e nunca poderá fazer a doação de si mesmo.

O grande teólogo Hans Urs von Balthasar escreveu um dia: “O homem foi feito segundo medidas-limite, mas Deus não conhece nenhuma medida, porque Deus é um sedutor de corações” (em O Coração do Mundo).

Maria, a grande seduzida de Deus, nos revela como é possível nos apaixonarmos por Jesus e segui-lo, amá-lo até o fim, gerá-lo mais no Espírito que na carne.

É a lição do grande Santo Agostinho: “Maria foi mais abençoada ao receber a fé em Cristo do que ao conceber o corpo de Cristo. Àquele que exclamara ‘Bem-aventurado o ventre que te trouxe!’, o Senhor respondeu: ‘Bem-aventurados, antes, aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a guardam’ (Lc 11, 27-28). O fato de ser mãe de nada teria servido a Maria se ela não tivesse gestado Cristo com mais felicidade no coração do que na carne” (A santa virgindade, 3, 3).
FONTE: Zenit

Nenhum comentário:

Postar um comentário