DO BLOG DE ROBERTO ALMEIDA
A situação é extremamente preocupante: no Brasil, há uma televisão de
altíssimo nível técnico e baixíssimo nível de programação. Sem nenhum controle
ético por parte da sociedade, os chamados canais abertos (aqueles que se podem
assistir gratuitamente) fazem a cabeça dos brasileiros e, com precisão
satânica, vão destruindo tudo que encontram pela frente: a sacralidade da
família, a fidelidade conjugal, o respeito e veneração dos filhos para com os
pais, o sentido de tradição (isto é, saber valorizar e acolher os valores e as
experiências das gerações passadas), as virtudes, a castidade, a
indissolubilidade do matrimônio, o respeito pela religião, o temor amoroso para
com Deus.
Na telinha, tudo é permitido, tudo é bonitinho, tudo é novidade, tudo é
relativo! Na telinha, a vida é pra gente bonita, sarada, corpo legal… A vida é
sucesso, é romance com final feliz, é amor livre, aberto desimpedido, é vida
que cada um faz e constrói como bem quer e entende! Na telinha tem a Xuxa, a
Xuxinha, inocente, com rostinho de anjo, que ensina às jovens o amor liberado e
o sexo sem amor, somente pra fabricar um filho… Na telinha tem o Gugu, que
aprendeu com a Xuxa e também fabricou um bebê…
Na telinha tem os debates frívolos do Fantástico, show da vida ilusória…
Na telinha tem ainda as novelas que ensinam a trair, a mentir, a explorar e a
desvalorizar a família… Na telinha tem o show de baixaria do Ratinho e do
programa vespertino da Bandeirantes, o cinismo cafona da Hebe, a ilusão da Fama…
Enquanto na realidade que ela, a satânica telinha ajuda a criar, temos
adolescentes grávidas deixando os pais loucos e a o futuro comprometido, jovens
com uma visão fútil e superficial da vida, a violência urbana, em grande parte
fruto da demolição das famílias e da ausência de Deus na vida das pessoas, os
entorpecentes, um culto ridículo do corpo, a pobreza e a injustiça social… E a
telinha destruindo valores e criando ilusão… E quando se questiona a qualidade
da programação e se pede alguma forma de controle sobre os meios de
comunicação, as respostas são prontinhas: (1) assiste quem quer e quem gosta,
(2) a programação é espelho da vida real, (3) controlar e informação é
antidemocrático e ditatorial…
Assim, com tais desculpas esfarrapadas, a bênção covarde e omissa de
nossos dirigentes dos três poderes e a omissão medrosa das várias organizações
da sociedade civil – incluindo a Igreja, infelizmente – vai a televisão
envenenando, destruindo, invertendo valores, fazendo da futilidade e do
paganismo a marca registrada da comunicação brasileira… Um triste e último
exemplo de tudo isso é o programa da Globo, o Big Brother.
Observe-se como o Pedro Bial, apresentador global, chama os personagens
do programa: “Meus heróis! Meus guerreiros!” – Pobre Brasil! Que tipo de
heróis, que guerreiros! E, no entanto, são essas pessoas absolutamente
medíocres e vulgares que são indicadas como modelos para os nossos jovens! Como
o programa é feito por pessoas reais, como são na vida, é ainda mais triste e
preocupante, porque se pode ver o nível humano tão baixo a que chegamos! Uma
semana de convivência e a orgia corria solta… Os palavrões são abundantes, o
prato nosso de cada dia… A grande preocupação de todos – assunto de debates,
colóquios e até crises – é a forma física e, pra completar a chanchada, esse
pessoal, tranqüilamente dá-se as mãos para invocar Jesus…
Um jesusinho bem tolinho, invertebrado e inofensivo, que não exige nada,
não tem nenhuma influência no comportamento público e privado das pessoas… Um
jesusinho de encomenda, a gosto do freguês… que não tem nada a ver com o Jesus
vivo e verdadeiro do Evangelho, que é todo carinho, misericórdia e compaixão,
mas odeia o fingimento, a hipocrisia, a vulgaridade e a falta de compromisso
com ele na vida e exige de nós conversão contínua! Um jesusinho tão bonzinho
quanto falsificado… Quanta gente deve ter ficado emocionada com os “heróis” do
Pedro Bial cantando “Jesus Cristo, eu estou aqui!”
Até quando a televisão vai assim? Até quando os brasileiros ficaremos
calados? Pior ainda: até quando os pais deixarão correr solta a programação
televisiva em suas casas sem conversarem sobre o problema com seus filhos e sem
exercerem uma sábia e equilibrada censura? Isso mesmo: censura! Os pais devem
ter a responsabilidade de saber a que programas de TV seus filhos assistem, que
sites da internet seus filhos visitam e, assim, orientar, conversar, analisar
com eles o conteúdo de toda essa parafernália de comunicação e, se preciso,
censurar este ou aquele programa. Censura com amor, censura com explicação dos
motivos, não é mal; é bem! Ninguém é feliz na vida fazendo tudo que quer,
ninguém amadurece se não conhece limites; ninguém é verdadeiramente humano se
não edifica a vida sobre valores sólidos… E ninguém terá valores sólidos se não
aprende desde cedo a escolher, selecionar, buscar o que é belo e bom, evitando
o que polui o coração, mancha a consciência e deturpa a razão!
Aqui não se trata
de ser moralista, mas de chamar atenção para uma realidade muito grave que tem
provocado danos seríssimos na sociedade. Quem dera que de um modo ou de outro,
estas linha de editorial servissem para fazer pensar e discutir e modificar o
comportamento e as atitudes de algumas pessoas diante dos meios de comunicação.
(Dom Henrique Soares, bispo auxiliar da Arquidiocese de Aracaju)
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