Homilia de D.
Henrique Soares da Costa – Solenidade de São Pedro e São Paulo – Ano C
At 12,1-11;Sl 33;2Tm
4,6-8.17-18; Mt 16,13-19
Hoje celebramos o glorioso martírio dos santos
Apóstolos Pedro e Paulo, aqueles “santos que, vivendo neste mundo, plantaram a
Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram
amigos de Deus”. Pedro, aquele a quem o Senhor constituiu como fundamento da
unidade visível da sua Igreja e a quem concedeu as chaves do Reino; Paulo,
chamado para ser Apóstolo de um modo único e especial, tornou-se o Doutor das
nações pagãs, levando o Evangelho aos povos que viviam nas trevas. Um pela cruz
e o outro pela espada, deram o testemunho perfeito de Cristo, derramando seu
sangue e entregando a vida em Roma, por volta do ano 67 da nossa era.
Caríssimos, esta Solenidade
hodierna dá-nos a oportunidade para algumas ponderações importantes.
A Igreja é apostólica. Esta
é uma sua propriedade essencial. João, no Apocalipse, vê a Jerusalém celeste
fundada sobre doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (cf.
21,14). Eis: a Igreja não pode ser fundada por ninguém, a não ser pelo próprio
Senhor, que a estabeleceu sobre o testemunho daqueles Doze primeiros que ele
mesmo escolheu. Seu alicerce, portanto, sua origem, seu fundamento são o
ministério e a pregação apostólicas que, na força do Espírito Santo, deverão
perdurar até o fim dos tempos graças à sucessão apostólica dos Bispos
católicos, transmitida na Consagração episcopal. Dizer que nossa fé é
apostólica significa crer firmemente que a fé não pode ser inventada nem
tampouco deixada ao bel-prazer das modas de cada época; crer que a Igreja tem
como fundamento os Apóstolos significa afirmar que não somos nós, mas o Cristo
no Espírito Santo, quem pastoreia e santifica a Igreja pelo ministério dos
legítimos sucessores dos Apóstolos. O critério daquilo que cremos, a regra da
nossa adesão ao Senhor Jesus, a norma da nossa fé é aquilo que recebemos dos
santos Apóstolos uma vez para sempre. Só a eles e aos seus legítimos sucessores
o Senhor confiou a sua Igreja, concedendo-lhes a autoridade com a unção do
Espírito para desempenharem o ofício de guiar o seu rebanho pelos séculos a
fora. Olhemos, irmãos amados, para Pedro e Paulo e renovemos nosso firme
propósito de nos manter alicerçados na fé católica e apostólica que eles
plantaram juntamente com os demais discípulos do Senhor. Hoje, quando surgem tantas
comunidades cristãs que se auto-intitulam “igrejas” e se auto-denominam
“apostólicas”, estejamos atentos para não perder a comunhão com a verdadeira
fé, transmitida de modo ininterrupto e fiel na única Igreja de Cristo, santa,
católica e apostólica.
Um outro aspecto importante,
caríssimos, é o significado de ser Apóstolo: ele não é somente aquele que prega
Jesus, mas, sobretudo, aquele que, escolhido pelo Senhor, com ele conviveu,
nele viveu e, por ele, entregou sua vida. Os apóstolos testemunharam Jesus não
somente com a palavra, mas também com o modo de viver e com a própria morte.
Por isso mesmo, seu martírio é uma festa para a Igreja, pois é o selo de tudo
quanto anunciaram. O próprio São Paulo reconhecia: “Não pregamos a nós mesmos,
mas a Cristo Jesus, o Senhor. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila
para que esse incomparável poder seja de Deus e não nosso. Incessantemente
trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja
também manifestada em nosso corpo. Assim, a morte trabalha em nós; a vida,
porém, em vós” (2Cor 4,5.7.10.12). Eis o sinal do verdadeiro Apóstolo: dar a
vida pelo rebanho, com Jesus e como Jesus, gastando-se, morrendo, pra que os
irmãos vivam no Senhor! Por isso, caríssimos meus, a alegria da Igreja na Festa
de hoje: Pedro e Paulo não só falaram, não só viveram, mas também morreram pelo
seu Senhor; e já sabemos pelo próprio Cristo-Deus que não há maior prova de
amor que dá a vida por quem amamos! Bem-aventurado é Pedro, bendito é Paulo,
que amaram tanto o Senhor a ponto de darem a vida por ele! Nisto são um
exemplo, um modelo, uma norma de vida para todos nós. Aprendamos com eles!
Um terceiro aspecto que hoje
podemos considerar é a ação fecunda da graça de Cristo na vida dos seus servos.
O exemplo de Pedro, o exemplo de Paulo servem muito bem para nós. Bento XVI, ao
ser eleito, afirmou humildemente que se consolava com o fato de Deus saber
trabalhar com instrumentos insuficientes: Quem era Simão, chamado Pedro? Um
pescador sincero, mas rude, impulsivo e de temperamento movediço. No entanto,
foi fiel à graça, e tornou-se Pedra sólida da Igreja, tão apegado ao seu
Senhor, a ponto de exclamar, cheio de tímida humildade: “Senhor tu sabes tudo;
tu sabes que te amo” (Jo 21,17). Quem era Saulo de Tarso, chamado Paulo? Um
douto, mas teimoso e radical fariseu, inimigo de Cristo. Tendo sido fiel à
graça, tornou-se o grande Apóstolo de Jesus Cristo, tão apaixonado pelo seu
Senhor, a ponto de nos desafiar: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo!”
(1Cor 11,1). Eis, caros meus, abramo-nos também nós à graça que o Senhor nos
concede para a edificação da sua obra, para a construção do seu Reino, e
digamos como São Paulo: “Pela graça de Deus sou o que sou, e sua graça em mim
não foi em vão” (1Cor 15,10).
Ainda um derradeiro aspecto,
amados no Senhor. Nesta hodierna Solenidade somos chamados a refletir sobre o
ministério de Pedro na Igreja. Simão por natureza foi feito Pedro pela graça.
Pedro quer dizer pedra. Eis, portanto, Simão Pedra. “Tu és Pedro e sobre esta Pedra
eu edificarei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino” (Mt 16,16ss).
Caríssimos, o ministério petrino é mais que a pessoa de Pedro. Seu serviço será
sempre o de confirmar os irmãos na fé em Cristo, Filho do Deus vivo, mantendo a
Igreja unida na verdadeira fé apostólica e na unidade católica. É este o
ministério que até o fim dos tempos, por vontade do Senhor, estará presente na
Igreja na pessoa do Sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, a quem chamamos
carinhosamente de Papa, pai. O Papa é o Pastor supremo da Igreja de Cristo
porque somente a ele o Senhor entregou de modo supremo o seu rebanho. Aquilo
que entregou aos Doze e a seus sucessores, os Bispos, entregou de modo especial
a Pedro e a seus sucessores, o Papa: “Tu me amas mais que estes? Apascenta as
minhas ovelhas!” (Jo 21,15). Estejamos atentos, caríssimos: nossa obediência,
nossa adesão, nosso respeito, nossa veneração pelo Santo Padre não é porque o
achamos simpático, sábio, ou de pensamento igual ao nosso, mas porque ele é
aquele a quem o Senhor confiou a missão de confirmar os irmãos. Nossa certeza
de que ele nos guia em nome de Cristo vem da promessa do próprio Senhor:
“Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como
trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. Quando,
porém, te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22,31-32). É porque temos
certeza da eficácia da oração de Jesus por Pedro e seus sucessores, que
aderimos com fé ao ensinamento do Santo Padre. Estejamos certos de uma coisa: quem
não está em comunhão com o Papa está fora da plena comunhão visível com a
Igreja de Cristo, que é a Igreja católica.
Assim, rezemos hoje pelo
Papa Bento XVI. E acompanhemos nossa oração com um gesto concreto: a esmola, o
óbolo de São Pedro, aquela contribuição que no dia de hoje os católicos do
mundo inteiro devem dar para as obras de caridade do Papa por todo o mundo.
Assim, com as mãos e com o coração rezemos pelo Santo Padre, o Papa Bento: Que
o Senhor nosso Deus que o escolheu para o Episcopado na Igreja de Roma, o
conserve são e salvo à frente da sua Igreja, governando o Povo de Deus, de modo
que o povo cristão a ele confiado possa sempre mais crescer na fé. Amém.
D. Henrique Soares da Costa
Fonte: Presbíteros.
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