quarta-feira, 28 de março de 2012

MAIS UM POUCO DE FILOSOFIA PARA QUEM GOSTA...

PARTE - II
A MAIÊUTICA SOCRÁTICA
1.3      Os diálogos socráticos

A didática destas ideias socráticas, ele adotava sempre o diálogo, que se apresentava de uma dúplice forma, sempre se tratava de um adversário a refutar ou mesmo de um discípulo a arrancar dele o saber que já estava ali.
No primeiro momento, assumia com humildade a atitude de quem aprende e vai multiplicando as questões até colocar o adversário em posição evidente de contradição, a fim de constrangê-lo até a confissão de forma humilde de sua ignorância. A isto chamamos de ironia socrática.
Em segundo momento, ao tratar-se de um discípulo, que muitas vezes acontecia de ser o próprio adversário que acabara de vencer, neste caso as perguntas aconteciam com mais afinco, sendo dirigida com o fim de obter num processo de indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto que se discute. Chamamos a este processo de pedagógico, de maiêutica, que facilitava a vinda das novas ideias.
Tal atuação demonstra de forma clara um metódo pedagógico da busca pela verdade das coisas a partir da pessoa a quem se interpela. A maiêutica se apresenta como um metódo que busca responder as questões a partir de uma “pesquisa” interna.
Esta pesquisa interna se dá no nível de diálogo que vai gerando no próprio Sócrates a vontade de perguntar mais de acordo com as respostas daquele que ele interpela.
A grande intenção do autor em tela é fazer com que a partir da maiêutica os conceitos aflorem ao espírito, proclamando com as suas próprias palavras, “só sei que nada sei”, fomentando a humildade diante do conhecimento divino.
Para Sócrates, a grande missão do ser humano seria o cuidado da alma na busca de superar a hierarquia rasteira dos bens terrenos. Ele mesmo diz nada saber.

Vede agora por que razão vos conto isso: desejo fazer-vos conhecer onde nasceu a calúnia contra mim. Ouvida a resposta oráculo, refleti deste modo: Que quer dizer o deus? O que esconde o enigma? Porque eu, por mim, não tenho consciência de ser sábio, nem pouco nem muito (Platão, “Apologia de Sócrates”, 6, 1996, p. 69).

O método apresentado é o indutivo, de investigação, utilizava a pedagogia das perguntas e respostas, no entanto a cada resposta dada se percebe aprofundar ainda mais o assunto em tela, fazendo deste diálogo um verdadeiro parto aonde vai se descobrindo o sentido das coisas.



1.4      O mito da caverna de Platão

Platão fala de Sócrates e reproduz diálogos colocando-o como personagem destes, tentando reproduzir os jogos das perguntas colocando sempre a dúvida em tela. Desta forma, fica perceptível a presença do jeito socrático de interpelar as pessoas.
É sabido que a filosofia nasce como libertação do mito, e que mesmo Sócrates condenou este tipo de mito, segundo Reale (1990, p.131),

Sócrates condenou até mesmo esse tipo de uso do mito, exigindo que fosse ele tratado com procedimento rigorosamente dialético. Platão, inicialmente, participou com Sócrates dessa posição. Entretanto, já a partir do Górgias, passou a atribuir ao mito um novo valor, que passaria a usar de forma constante, conferindo-lhe grande importância.

Para Platão o mito se reveste de uma expressão de crença, colocado o mito numa perspectiva bem mais ampla como aquele que eleva a visão do homem. Na República ele coloca o famoso “Mito da caverna”, que coloca toda uma perspectiva de pedagogia na busca do saber o que está fora daquele lugar onde só se veem sombras. Tais sombras se tratam do mundo exterior que precisa de muita coragem para sair do lugar onde se estar em busca das coisas novas.
A maiêutica visa tirar do próprio homem o que nele se esconde, fazendo ou trazendo para fora o que está no seu mais íntimo, descobrindo assim coisas novas, sabendo mais, e que o mundo é muito maior do aquela caverna em que está metido. No entanto, este que tem a coragem de vencer o medo e buscar novas descobertas deve voltar na busca de libertar aqueles que ficaram. O grande problema é que este deve sempre está em atitude vigilante para não cair na tentação de novamente ficar por lá. A sua atitude é apresentada por Platão como a atitude de um governante que tem este papel primordial, por isso que para ele o governante da República deve ser sempre aquele que chegou a luz da verdade.  Nas Palavras de Reale (1990, p.168), “Entretanto, o homem que “viu” o verdadeiro Bem deverá e saberá correr esse “risco”, pois é isso que dá sentido a sua existência.”
O estudo em tela mostra que o método socrático visa trazer ao homem a luz, mostrando a sua realidade de escravidão, e este deve sempre buscar a luz da verdade para poder assim viver de forma livre, participando das decisões que dizem respeito a sua própria vida.
A educação partindo da realidade em que se vive, faz com que o educando busque o saber no seu próprio espaço, fazendo da sua experiência de vida um aprendizado e usando a vida na comunidade como meio de aprendizagem, ou seja, partindo do que já existe em seu mundo, nas palavras de Sócrates sua própria alma, colocando o saber existente para fora. O conhecimento adquirido que gera a verdadeira liberdade e coloca o homem de igual para igual.
BIBLIOGRAFIA
ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Vicenzo Cocco. Coleção Os Pensadores, Vol. IV, São Paulo: Nova  Cultura, 1996.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2ª ed. Revisada e ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
OS PRÉ-SOCRÁTICOS. Seleção de texto e supervisão: Prof. José Cavalcante de Souza. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultura, 1996.
PHILOTHEUS, Boehner. ETIENNE,Gilson. História da Filosofia Cristão. Desde as Origens até Nicolau de Cusa. Tradução e nota introdutória de Raimundo Vier, O.F.M. Petrópolis: Vozes, 1991.
PLATÃO. Diálogos: Eutífron – Fedon – Apologia de Sócrates – Críton. Col. Os Pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 1996, pag. 47.
Reale, Giovanni, História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média/ Giovanni Reale, Dario Atiseri; São Paulo: Paulus, 1990 – (Coleção Filosofia).

Um comentário:

  1. O método socrático-platonista possui uma aplicabilidade formidável quando se trata da formação moral do indivíduo. O erro talvez se dê pelo fato de que pressupõem o conhecimento não como algo adquirido, mas "lembrado'' pelo indivíduo que é "objeto'' da maniêutica, do parto realizado pela filósofo que apenas consiste em dar a luz algo que já era inerente ao indivíduo. Carcterística é a passagem em que o Sócrates platônico demonstra que um escravo já sabe geometria sem tê-la jamais estudado. Ou seja, o conhecimento apriorístico da teoria da amnese é, no mínimo, inaplicável aos conhecimentos empíricos. Mas não descarta uma noção de experiência: a cada vez que se estuda algo, mais o indivíduo conseguirá "lembrar'' do que já sabia quando era uma alma imortal contemplativa do mundo das ideias.
    Mas aqui vai a pergunta de um iniciante: esse conhecimento apriorístico, que é relembrado pela prática, diz respeito ao mundo moral e conceitual (a Dianoia, os valores abstratos e as formas extrasensíveis dos objetos)ou ao conhecimento empírico? Primeiramente, não... já que o conhecimento sensível é hostilizado pelo socratismo como doxa, opinião, um saber sem fundamento, já que seu objeto está em eterna mutação (o "Apeiron''). Mas basta lembrar da rememoração: se vejo várias vezes uma árvore, vou lentamente relembrando o "conceito'', a forma metafísica de uma árvore (seus caracteres diferenciadores). Isso é um exemplo de um conhecimento sensível que, conjuntamente com a ação do filósofo, atua para dar a luz o saber já presente no indivíduo. Então, o platonismo admite que o conhecimento sensível pode ser ratio cognoscendi do verdadeiro saber, o saber dos conceitos, a episteme? A matéria, o apeiron, antes hostilizada, parece participar da amnese do indivíduo, contribuindo para a lembrança da ideia de árvore. Daí eu acreditar que, dado o caráter apriorístico dos dados culturais com os quais raciocinamos, muito do conhecimento que acessamos é apriorístico (temporalmente falando), e que a própria matéria, numa relação dialética com o sujeito, constribui para sua classificação em um conceito. Porque é isso que Platão e Sócrates oferecem, no fundo... a abstração, uma teoria de conhecimento, um método, sobre o qual se assentam as maiores conquistas filosóficas e científicas da humanidade. Conquistas que libertaram as massas da opressão.
    E ainda alguns preferem o negacionismo de Nietsche.

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