quinta-feira, 1 de março de 2012



ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

A antiga cultura grega coloca uma imagem de homem complexa para a cultura ocidental, tal imagem traz presente o tema do destino que se coloca como um elo, de ligação entre a visão antiga e a visão clássica de homem. Nesta cultura o homem é capaz de entra em contato com os outros e criar a comunidade política.

            Para Platão na sua concepção dualista, o corpo humano é o cárcere da alma, e esta preexiste e é sorteada para escolher as vidas possíveis, elegem melhores ou piores, encarnando-se, em virtude de uma culpa original, recebendo no final um premio ou um castigo a ser cumprido, devendo buscar essa purificação pela a via do conhecimento do Bem Supremo, sendo a imortalidade da alma seu destino final, e eterno.

A antropologia platônica coloca o homem em relação com o divino que se sobrepõe a todos. Para ele a natureza do homem é racional, e é justamente na razão que o homem realiza sua humanidade. Tal natureza racional do homem encontra no corpo não um instrumento, e sim um obstáculo. Um dualismo filosófico religioso de alma e corpo, encontrando no intelecto um obstáculo, no sentido à vontade, no impulso. Desta forma o homem se liberta se desprendendo deste mundo.

            Com o passar do tempo, o neoplatonismo vai ser o referencial do pensamento ocidental no que diz respeito ao dualismo subjetivo, ou seja, a alma sensível, inteligível correspondendo ao dualismo objetivo, tempo e eternidade.

            No que diz respeito à concepção do homem cristão medieval se apresentam as fontes filosóficas grega, tradição bíblica e vétero testamentária. A patrística vai colocar todo o seu desenvolvimento a luz do mistério da encarnação, com o tema de Santo Irineu da imagem e semelhança, este mistério se dá em nível concreto como arquétipo histórico.

            Para Agostinho o homem é um ser itinerante, dentro desta visão antropológica. Sendo a sua influência predominante no séc. XII no campo filosófico e teológico.

            A pessoa humana como a imagem da Santíssima Trindade, se conhece e se ama, ou seja memória, razão e vontade. O problema da filosofia já não é mais o cosmo, é o homem, considerado individualmente, o eu que se conforma ou se confronta com a vontade divina.

            A liberdade para Agostinho é a autodeterminação racional para o bem, que não é a ausência de vínculos ou compromissos, mas escolhê-los racionalmente, ou a vida seria um nada fazer, pois se deve optar por algum bem.

            A vontade humana é livre e dar a ele a liberdade de fazer o mal, sendo vontade de um ser limitado. Neste caso a vontade não é má, pois é vontade de um ser limitado. Assim a vontade é má, não sendo causa eficiente mais deficiente de uma ação viciosa, visto que o mal não tem realidade metafísica. O pecado tem em si mesmo apena de sua desordem, desta forma não pode a criatura lesar a Deus, logo prejudica a si mesmo, destruindo a sua natureza.

            A grande problemática histórica é o mal, Agostinho resolve, colocando os dogmas do pecado original e da redenção pela a cruz, desta forma da resposta através da teologia. O grande autor vai tratar este assunto na cidade de Deus.

            Enquanto o pensamento clássico resolve o problema metafísico teológico dualisticamente e o pensamento cristão teisticamente, o pensamento moderno de forma imanente. Há uma lógica no desenvolvimento do dualismo clássico ao teísmo cristão, não havendo o mesmo com relação ao teísmo cristão ao imanentismo moderno.  Sendo representado pela a ciência, à história e suas técnicas o pensamento moderno, estas são harmonizáveis e justificáveis com a metafísica tradicional.

            O berço do humanismo e do renascença foi a Itália e depois se propaga na Europa. Nas grandes nações europeias o humanismo é o renascimento tem seu interesse principalmente pelos problemas religiosos.

            A renascença quer ser um retorno à concepção clássica, humanista e pagã do mundo e da vida. É a afirmação da prática e da moral do imanentismo moderno. Desta forma fica visto que entre o humanismo clássico e o humanismo moderno se coloca a mensagem cristã, no que diz respeito à transcendência e ascética. A afirmação renascentista de humanismo moderno é confusa com elementos tradicionais, fazendo-se necessário separa-las. Não há ao lado do renascimento pagão um renascimento cristão, como movimento especulativo. O que há na verdade são homens pagãos ao lado de homens cristãos e elementos humanistas e naturalistas valorizáveis no cristianismo.

            O humanismo renascentista em que se rejeitam os valores medievais de uma sociedade teocêntrica, na busca da liberdade e da independência que caracteriza o novo firmamento cultural de uma sociedade antropocêntrica, desemboca num iluminismo revolucionário, que colocará fim a Idade Moderna, sem diferenciar-se dos pressupostos ideológicos.

            A dignidade da pessoa humana como tema aparece na renascença como a reiteração consciente que vem de um tema de Sófocles e da Sofística grega tornando-se comum na literatura antiga. É uma exaltação da dignidade e da respostas, as exigências  das novas sensibilidades em face ao homem e de suas obras, seus traços mais característicos do humanismo. Neste sentido há uma diferença entre a dignidade do homem na literatura antiga e nos da renascença. No primeiro caso é a atividade de contemplação atestando a grandeza do homem e sua dignidade. Já no segundo é o agir a capacidade de transformação do seu mundo que passa a ser indício incontestável da superioridade do homem.

            Para Spinoza o homem não é uma substância corpórea, nem espiritual, é um complexo de fenômenos, de modos psicofísicos que vem de uma substância única. A alma é chamada por esse complexo dos modos psíquicos, que é dotado de várias atividades teoréticas, prática. Desdobra-se cada uma em graus sensíveis e racionais que rigorosamente se correspondem. O conhecimento sensível é subjetivo, é fenômeno. O conhecimento racional é distinto em dois graus, o universal abstrato, e o concreto intuitivo, por estes o homem atinge a substância divina. Desta forma o conhecimento não se da em penetração do objeto por parte do sujeito, mas na correspondência do sujeito e do objeto.

            Caracterizada pelo rompimento com a tradição anterior a filosofia modera, rompe com o mundo religioso, com a iniciativa de Lutero, no que diz respeito a livre análise da Bíblia e independência de qualquer forma de autoridade. Há também uma ruptura filosófica, começando de forma mais radical com Descartes, que traz a vontade de construir tudo através de novas bases.

            Verifica-se que a partir da filosofia moderna há uma degradação do pensamento, ou seja, o rompimento da harmonia constitutiva da filosofia e suas partes, metafísica, ética, psicologia, sociologia, física etc. Tal raiz está na nova postura adotada diante do real, o imanentismo que começa como o racionalismo de Descartes indo até Spinoza, Kant, desembocando no idealismo absoluto de Hegel. É a filosofia em que a elucubração mental passa a ser o real. E o mundo exterior pequeno reflexo do pensamento humano. Trata-se da independência da realidade, sendo esta a mais radical independência.

            Já na dimensão da historicidade podemos perceber que antropologia de Rousseau se coloca ligada a experiência humana, sendo neste sentido, existencial. De um lado colando o sentimento, o coração como lugar deste, ou a consciência moral no centro da sua visão de homem, por outro o coloca como genuíno racionalista, dando a seu pensamento um rigor estrutural racionalista.

            Tal rigor racional é colocado em dois discursos, dando a um uma análise dos males e da corrupção da sociedade e do indivíduo como fruto da cultura. No outro discurso falando sobre a origem da desigualdade, aprofunda e analisa como uma verdadeira antropologia histórica, onde estuda os passos dados pela a humanidade evoluindo intelectualmente, socialmente, economicamente e politicamente.

            Sua antropologia se coloca como uma filosofia da história inspirando-se nos pressupostos do conhecimento da filosofia do direito natural tendo como ponto de partida a natureza humana ou o homem no estado da natureza. Coloca a trajetória da historia humana em sua reconstituição, conduz do estado a-história inicial à realidade histórica observável da sociedade civil. Tal concepção antropológica coloca as perguntas sobre o que levou o homem natural do estado de natureza ao estado de sociedade, bem como o que levou ao estado de sociedade levar o homem a corrupção e a perda da bondade inata. A antropologia de Rousseau está contramão da antropologia clássica do tipo platônica e a antropologia medieval.

            Em outra visão questão da liberdade se coloca numa perspectiva do livre arbítrio, caracterizando-se pela a ausência de constrangimento exterior na escolha dos bens contingentes pela a vontade, não estando tanto na possibilidade de escolha entra o bem e mal, mas na escolha do bem principalmente sem haver constrangimento físico para conquista-lo. Neste sentido a liberdade consiste em escolhas concretas em vista do bem.

                        A filosofia contemporânea vem concebendo o homem como um ser pluriversal vendo o homem como aquele que dar vazão e abertura às várias regiões do ser que se oferecem ao seu conhecimento e à sua ação.

Pe. José Émerson.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

OS PRÉ-SOCRÁTICOS . Seleção de texto e supervisão: Prof. José Cavalcante de Souza. C ol. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultura, 1996.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2ª ed. Revisada e ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Vicenzo Cocco. Coleção Os Pensadores, Vol. IV, São Paulo: Nova  Cultura, 1996.

PLATÃO. Diálogos: Eutífron – Fedon – Apologia de Sócrates – Críton. Col. Os Pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 1996, pag. 47).

Reale, Giovanni, História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média/ Giovanni Reale, Dario Atiseri; -São Paulo: Paulus, 1990 – (Coleção Filosofia).

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Coleção Os Pensadores, São Paulo: Nova  Cultura, 1996.

DESCARTES. Discurso do método; As paixões da alma; Meditações; Objeções e respostas. Coleção Os Pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 1996.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich.  Estética: A ideia e o ideal; Estética: O belo artístico ou o ideal. Coleção Os Pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 1996.

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