terça-feira, 13 de março de 2012

UM POUCO DE FILOSOFIA PARA QUEM GOSTA...

PARTE - I

A MAIÊUTICA SOCRÁTICA
1.1      Vida de Sócrates
Nascido em Atenas nos anos de 470 ou 469 a.C.,  filho de um escultor e de uma parteira, dedicou-se desde cedo à meditação e ao ensino filosófico como uma missão religiosa, não dando atenção aos serviços domésticos nem a política. Um homem que tem por marca pessoal a introspecção, que coloca em tela o famoso conhece-te a ti mesmo, que se personificava na sua voz calma.  Sua atitude irônica e crítica, usando de um método racional, vai ganhando descontentamentos e inimizades da população que terminam se concretizando na acusação contra ele como corrupto da religião nacional. A acusação era sobretudo no que diz respeito aos jovens, que poderiam ser corrompidos por ele.
Tal acusação desencadeou num processo em que foi condenado a morte, enfrentando-a de forma serena e recusando-se a defender-se no ano de 355 a.C.
Podemos distinguir a vida deste grande filósofo em duas partes. O grande filósofo sofreu a influência de Arquelau, que era um físico e que também o influenciou com o pensamento sofista[1].
1.2      A escola socrática e a busca do saber
O interesse filosófico de Sócrates, como era comum aos sofistas, se volta para o humano, tem como finalidade a praticidade. Mas diversificando dos sofistas, o seu interesse não é pelo homem empírico, de interesses egoístas, mas pelo homem em visão geral, com finalidades morais.
Começa a exemplo dos sofistas, criticando o saber popular, a sabedoria da opinião, no entanto não se limita a crítica acabando no ceticismo, mas transcende do saber sensível, mutável e individual ao saber racional, imutável. O seu pensar filosófico tem por finalidade a prática, a moral. No entanto, ele entende que tais finalidades se realizam unicamente através do conhecimento da razão.
A sua única construção racional é a gnosiologia e não a metafísica, ele ensina um método da ciência e não uma ciência propriamente dita. A sua gnosiologia mostra como se concretiza a sua forma de ensinar dialogada, onde a sua atitude é sempre irônica. Neste caso, a maiêutica se apresenta como um verdadeiro parto, como a mulher que dar a luz a seu filho, assim também o ser humano dar a luz daquilo que nele já existe.  A atitude de ignorância se dar, sobretudo no que diz respeito ao nada sei como possibilidade sempre existente de um aprender eminente. A abertura para o novo que está à porta, pronta para nos ensinar coisas novas. Segundo Reale (1990, p. 87):

Os naturalistas procuram responder à seguinte questão: “O que é a natureza ou a realidade última das coisas?” Sócrates, porém, procura responder a questão: “O que é a natureza ou a realidade última do homem?”, ou seja, “o que é a essência do homem?

Induzindo o homem a esta atitude de questionar-se de forma irônica, vai tratando de fazer com que as respostas brotem de dentro de quem ele interpela, gerando assim um questionamento constante, surtindo sempre em respostas novas, novas descobertas. Tal atitude tira o ser humano do estado estático e o coloca em lugar de gestor de seu próprio pensar.
Na transição socrática, ele trata da alma (psyché) e vida interior no sentido da pessoa no mais profundo do seu ser. A "alma" (psyché), segundo Sócrates, é a sede de uma areté, que quer dizer excelência ou virtude, que permite medir o homem segundo a dimensão interior na qual reside a verdadeira grandeza humana. É na alma, que tem lugar a opção profunda que orienta a vida humana segundo o justo ou o injusto, e é ela que constitui a verdadeira essência do homem, sede de sua verdadeira areté. A alma é vista por Sócrates como o lugar do saber. Desta forma, se faz necessário buscar da mesma esse saber, e isso acontece através do esforço de cada um. Neste caso, o filósofo faz vir à tona o saber que está intrínseco.
Na verdade, a resposta de Sócrates sobre o que é o homem, traz uma resposta bastante precisa, afirmando ser o homem a sua alma. Desta forma o diferencia de qualquer outra coisa. Para ele alma é consciência, personalidade intelectual e moral. Cuidando de si o homem não só cuidava simplesmente do corpo, mas, sobretudo da sua alma. No dizer de Reale (1990, p. 90):

E como, para ele, a própria natureza do homem é a sua alma, ou seja, a razão, e as virtudes revelam-se como uma forma de ciência e de conhecimento, precisamente porque são a ciência e o conhecimento que aperfeiçoam a alma e a razão, como já dissemos.

Para ele, todas as virtudes se resumiriam no conhecimento, sendo o cultivo da alma mais valoroso do que toda a riqueza material. O vício da ignorância é que gera o pecado, pois este acontece por ignorância do próprio bem. Tal imperfeição vem da não distinção justamente entre inteligência e vontade. Desta forma, a base da virtude está no domínio da racionalidade sobre a animalidade, tendo sempre como perspectiva o autodomínio e a liberdade, que é justamente o que leva a verdadeira felicidade, destacando desta forma o prazer e a dor como coisas indiferentes.



[1] REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.
Pe. José Émerson..

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