terça-feira, 24 de dezembro de 2013

São José, nosso representante na Sagrada Família

As semelhanças entre a vida de São José e nossa própria vida.
Por Alexandre Varela

RIO DE JANEIRO, 23 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - São José era um homem comum.  Não foi poupado do pecado original.  Na Bíblia, aparece pouco e não há sequer uma frase falada por ele.  Em certo momento, Cristo se apresentou para ele, mas de maneira tão inusitada e em meio a tantas dificuldades que talvez ele tenha pensado em desistir,  mas teve imensa simplicidade e fidelidade para trilhar os caminhos de Deus e acolher a Cristo em sua vida, mesmo tendo que superar muitos obstáculos, incluindo a si mesmo.  Por muitas vezes, o mesmo acontece conosco.  Talvez seja interessante olhar para ele como o sendo o nosso representante na Sagrada Família.  Afinal, Nossa Senhora teve a graça de nascer sem o pecado original, Cristo é Deus, mas São José era igual a nós.

Papa Francisco tem chamado muita atenção para São José.  Tem citado o santo em diversas ocasiões e na oração do Ângelus deste domingo, dia 22/12/2013, fez uma belíssima catequese sobre o momento crucial da sua vida: a gravidez de Maria.

Imaginemos um homem que sai em viagem deixando uma noiva, combinando que casarão assim que ele regresse.  Porém, quando este homem volta encontra sua noiva grávida.  Isso já bastaria para criar muita confusão.  Mesmo nos dias de hoje.  Agora pense o que aconteceria em uma sociedade onde isso era considerado grave o suficiente para ser punido com apedrejamento público!

Pois foi isso que aconteceu a José, que ainda não sabia que Maria carregava o Filho de Deus.  Não tendo outra saída, ele resolveu abandonar Maria. Mas o fez em segredo.  Sem alarde.  Ele não queria que nada de mal acontecesse àquela menina.   Papa Francisco diz:

“E o Evangelho diz: 'Porque era um homem justo e não queria acusá-la publicamente, resolveu deixá-la em segredo' ( 1, 19).

Esta pequena frase resume um verdadeiro drama interior, se pensarmos no amor que José tinha por Maria! Mas, mesmo em tal circunstância, José pretende fazer a vontade de Deus e decide, sem dúvida com grande dor, abandonar Maria em segredo. Devemos meditar nessas palavras, para entender a prova que José teve que enfrentar nos dias que precederam o nascimento de Jesus. Uma prova parecida com aquela do sacrifício de Abraão, quando Deus lhe pediu seu filho Isaque (cf. Gn 22): renunciar à pessoa mais preciosa, à pessoa mais amada.”

Mas o Senhor não abandonaria José e nem Maria (que a essa altura não poderia ficar sozinha – seria muito perigoso) e faz com que um anjo explique tudo a ele em sonho.  E José, neste momento é obrigado a renunciar completamente a todas as expectativas que tinha criado, para seguir o caminho que Deus estava mostrando.

José, assim como qualquer homem, em qualquer tempo, imaginava ter uma esposa, filhos e uma vida normal em que trabalharia durante o dia e chegaria em casa ao final da tarde para ficar com sua família.  Não imaginava desposar uma mulher grávida, não imaginava fugir para proteger a sua família e com certeza, não imaginava ter que abraçar a imensa responsabilidade de criar o Filho de Deus, o Messias tão esperado por todos.

De novo, vamos olhar para as palavras irretocáveis de Francisco:

“Este Evangelho nos mostra toda a grandeza de alma de São José. Ele estava seguindo um bom projeto de vida, mas Deus reservou para ele um outro projeto, uma missão maior. José era um homem que sempre dava ouvidos à voz de Deus, profundamente sensível à sua vontade secreta, um homem atento às mensagens que lhe vinham do profundo do coração e do alto. Não ficou obstinado em perseguir aquele seu projeto de vida, não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma, mas estava preparado para colocar-se à disposição da novidade que, de forma desconcertante, era-lhe apresentada. Era assim, era um homem bom. Não odiava, e não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma. Mas quantas vezes em nós o ódio, a antipatia também, o rancor nos envenenam a alma! E isso faz mal. Não permiti-lo nunca: ele é um exemplo disso. E assim, José se tornou ainda mais livre e grande. Aceitando-se de acordo com o projeto do Senhor, José encontra plenamente a si mesmo, além de si. Esta sua liberdade de renunciar ao que é seu, e esta sua plena disponibilidade interior à vontade de Deus, nos interpelam e nos mostram o caminho.”

O parágrafo acima é para ser lido mil vezes, até que se entenda tudo o que São José representa para a vida de cada um de nós.

São José tinha um plano para sua vida e, em algum momento, teve que encarar a o fato de que o plano de Deus não combinava com seus planos.  Com toda a certeza isso já aconteceu com cada um de nós!  Mas quando isso aconteceu, o que fizemos?  Aderimos ao plano de Deus ou ficamos rancorosos e envenenados, lamentando por não conseguirmos impor nossos próprios planos?

Papa Francisco fala que José se tornou mais livre e grande ao aderir ao plano de Deus.  Parece paradoxal que José não tenha feito o que quer, mas tenha se tornado mais livre!  O pecado original sempre nos dá a tentação de acharmos que ser livre é não pertencer a nada nem ninguém.  Mas isso é uma ilusão.  Sempre seguimos alguém, sempre pertencemos a algo.  Então, porque não seguir a Deus e pertencer a Ele?  Há outra maneira de ser realmente livre?

Quantas vezes nos agarramos aos nossos planos, tentando fazer com que prevaleçam?  Quantas vezes viramos as costas para os planos de Deus porque achamos tudo muito difícil?  Quantas vezes ficamos confusos com a realidade e não enxergamos o que Deus quer de nós?

Neste Natal, olhemos para São José, que não foi poupado do pecado original, nem das dificuldades.  Aderiu fielmente aos planos de Deus, cresceu, foi mais livre e serviu como peça fundamental da salvação de todos nós.


Alexandre Varela é catequista de Crisma e editor do site O Catequista.

Fonte: ZENIT

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