São José, nosso representante na Sagrada Família
As semelhanças entre a vida
de São José e nossa própria vida.
Por Alexandre Varela
RIO DE JANEIRO, 23 de
Dezembro de 2013 (Zenit.org) - São José era um homem comum. Não foi poupado do pecado original. Na Bíblia, aparece pouco e não há sequer uma
frase falada por ele. Em certo momento,
Cristo se apresentou para ele, mas de maneira tão inusitada e em meio a tantas
dificuldades que talvez ele tenha pensado em desistir, mas teve imensa simplicidade e fidelidade
para trilhar os caminhos de Deus e acolher a Cristo em sua vida, mesmo tendo
que superar muitos obstáculos, incluindo a si mesmo. Por muitas vezes, o mesmo acontece
conosco. Talvez seja interessante olhar
para ele como o sendo o nosso representante na Sagrada Família. Afinal, Nossa Senhora teve a graça de nascer
sem o pecado original, Cristo é Deus, mas São José era igual a nós.
Papa Francisco tem chamado
muita atenção para São José. Tem citado
o santo em diversas ocasiões e na oração do Ângelus deste domingo, dia
22/12/2013, fez uma belíssima catequese sobre o momento crucial da sua vida: a
gravidez de Maria.
Imaginemos um homem que sai
em viagem deixando uma noiva, combinando que casarão assim que ele
regresse. Porém, quando este homem volta
encontra sua noiva grávida. Isso já
bastaria para criar muita confusão.
Mesmo nos dias de hoje. Agora
pense o que aconteceria em uma sociedade onde isso era considerado grave o
suficiente para ser punido com apedrejamento público!
Pois foi isso que aconteceu
a José, que ainda não sabia que Maria carregava o Filho de Deus. Não tendo outra saída, ele resolveu abandonar
Maria. Mas o fez em segredo. Sem
alarde. Ele não queria que nada de mal
acontecesse àquela menina. Papa
Francisco diz:
“E o Evangelho diz: 'Porque
era um homem justo e não queria acusá-la publicamente, resolveu deixá-la em
segredo' ( 1, 19).
Esta pequena frase resume um
verdadeiro drama interior, se pensarmos no amor que José tinha por Maria! Mas,
mesmo em tal circunstância, José pretende fazer a vontade de Deus e decide, sem
dúvida com grande dor, abandonar Maria em segredo. Devemos meditar nessas
palavras, para entender a prova que José teve que enfrentar nos dias que
precederam o nascimento de Jesus. Uma prova parecida com aquela do sacrifício
de Abraão, quando Deus lhe pediu seu filho Isaque (cf. Gn 22): renunciar à
pessoa mais preciosa, à pessoa mais amada.”
Mas o Senhor não abandonaria
José e nem Maria (que a essa altura não poderia ficar sozinha – seria muito
perigoso) e faz com que um anjo explique tudo a ele em sonho. E José, neste momento é obrigado a renunciar
completamente a todas as expectativas que tinha criado, para seguir o caminho
que Deus estava mostrando.
José, assim como qualquer
homem, em qualquer tempo, imaginava ter uma esposa, filhos e uma vida normal em
que trabalharia durante o dia e chegaria em casa ao final da tarde para ficar
com sua família. Não imaginava desposar
uma mulher grávida, não imaginava fugir para proteger a sua família e com
certeza, não imaginava ter que abraçar a imensa responsabilidade de criar o
Filho de Deus, o Messias tão esperado por todos.
De novo, vamos olhar para as
palavras irretocáveis de Francisco:
“Este Evangelho nos mostra
toda a grandeza de alma de São José. Ele estava seguindo um bom projeto de
vida, mas Deus reservou para ele um outro projeto, uma missão maior. José era
um homem que sempre dava ouvidos à voz de Deus, profundamente sensível à sua
vontade secreta, um homem atento às mensagens que lhe vinham do profundo do
coração e do alto. Não ficou obstinado em perseguir aquele seu projeto de vida,
não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma, mas estava preparado para
colocar-se à disposição da novidade que, de forma desconcertante, era-lhe
apresentada. Era assim, era um homem bom. Não odiava, e não permitiu que o
rancor lhe envenenasse a alma. Mas quantas vezes em nós o ódio, a antipatia
também, o rancor nos envenenam a alma! E isso faz mal. Não permiti-lo nunca:
ele é um exemplo disso. E assim, José se tornou ainda mais livre e grande.
Aceitando-se de acordo com o projeto do Senhor, José encontra plenamente a si
mesmo, além de si. Esta sua liberdade de renunciar ao que é seu, e esta sua
plena disponibilidade interior à vontade de Deus, nos interpelam e nos mostram
o caminho.”
O parágrafo acima é para ser
lido mil vezes, até que se entenda tudo o que São José representa para a vida
de cada um de nós.
São José tinha um plano para
sua vida e, em algum momento, teve que encarar a o fato de que o plano de Deus
não combinava com seus planos. Com toda
a certeza isso já aconteceu com cada um de nós!
Mas quando isso aconteceu, o que fizemos? Aderimos ao plano de Deus ou ficamos
rancorosos e envenenados, lamentando por não conseguirmos impor nossos próprios
planos?
Papa Francisco fala que José
se tornou mais livre e grande ao aderir ao plano de Deus. Parece paradoxal que José não tenha feito o
que quer, mas tenha se tornado mais livre!
O pecado original sempre nos dá a tentação de acharmos que ser livre é
não pertencer a nada nem ninguém. Mas
isso é uma ilusão. Sempre seguimos
alguém, sempre pertencemos a algo.
Então, porque não seguir a Deus e pertencer a Ele? Há outra maneira de ser realmente livre?
Quantas vezes nos agarramos
aos nossos planos, tentando fazer com que prevaleçam? Quantas vezes viramos as costas para os
planos de Deus porque achamos tudo muito difícil? Quantas vezes ficamos confusos com a
realidade e não enxergamos o que Deus quer de nós?
Neste Natal, olhemos para
São José, que não foi poupado do pecado original, nem das dificuldades. Aderiu fielmente aos planos de Deus, cresceu,
foi mais livre e serviu como peça fundamental da salvação de todos nós.
Alexandre Varela é
catequista de Crisma e editor do site O Catequista.
Fonte: ZENIT