Viver a nossa fé com coerência, mesmo sendo uma religião minoritária.
Entrevista com o vigário do Patriarcado Latino em Israel, durante a
Conferência dos Bispos Latinos para as Regiões Árabes.
Por Sergio Mora
ROMA, 23 de Setembro de 2013
(Zenit.org) - Uma reunião de quatro dias foi realizada em Roma pela Conferência
dos Bispos Latinos das Regiões Árabes (CELRA). O vigário do Patriarcado Latino
para os católicos de Israel que falam hebraico e para os imigrantes, David M.
Neuhaus S.J., falou em entrevista a ZENIT sobre as dificuldades do atual
momento na Síria e no Egito e sobre a mudança observada no panorama
internacional depois da vigília de oração e jejum que o papa Francisco
convocou. O tema central da reunião, porém, foi a vida pastoral daquelas
comunidades, que têm de viver a sua fé católica de modo coerente, mesmo sendo
minorias em meio a outras religiões.
“A nossa conferência episcopal”,
disse o vigário, “tem uma reunião anual, e a cada dois anos ela acontece em
Roma. É uma reunião habitual, mas desta vez ela está marcada por dois eventos
especiais: os cinquenta anos da fundação da CELRA, que nasceu em 1962-63,
durante o concílio, e a situação dramática que os nossos países estão vivendo
agora”.
Neuhaus ressalta que,
“infelizmente, não pôde vir o vigário da diocese da Síria nem o bispo do Egito,
as duas nações que estão vivendo uma situação delicada neste momento”.
A reunião aborda temas
fundamentalmente pastorais, mas o vigário comenta que “tratamos muito da
situação na Síria e no Egito, porque todos os países das nossas dioceses são
afetados pela instabilidade naquela região”.
“Viemos de quatro países da
Terra Santa: Israel, Palestina, Jordânia e Chipre. E de outras nações da
região, como o Líbano, a Síria, o Iraque, além dos países do Golfo Árabe, que
estão divididos em duas dioceses, a da Arábia Norte e a da Arábia Sul. E ainda
do Egito, da Somália e de Djibuti. Uma conferência episcopal estranha, em que
nós temos dificuldades para encontrar um país onde nos reunir sem problemas”.
Neuhaus recorda que não se
trata de “uma visita ad limina, que são feitas a cada cinco anos. É a reunião
anual da CELRA, que no ano passado foi na Jordânia e desta vez é aqui em Roma”.
Sobre a situação na Síria,
“mostramos a nossa gratidão ao papa pelas iniciativas que ele propôs a todo o
planeta, como a jornada de jejum e de oração pela paz no mundo. Não sabemos se
é um milagre, mas, antes da vigília, todos os países do mundo diziam guerra,
guerra, guerra, e agora a palavra é diálogo, diálogo, diálogo. Estamos muito
contentes com este resultado. Mas a situação ainda é bem dramática e nós temos
que continuar rezando intensamente para que esta situação terrível se resolva”.
Não haverá um encontro
formal com o papa “por não se tratar de uma visita ad limina, mas fomos
recebidos em grupos e rezamos com ele na missa da Casa Santa Marta”.
“A possibilidade do diálogo
é factível porque Deus pode tudo. Não somos homens políticos, que têm que propor
etapas práticas para o diálogo, mas temos que transmitir sempre palavras de
esperança para o povo. A nossa profissão é uma profissão de esperança e de
perdão”.
ZENIT perguntou se a guerra
na Síria é uma guerra civil. Neuhaus precisou: “Há também as forças
estrangeiras que entram para ajudar as duas partes. Nós não estamos lá para
tomar posição a favor ou contra, mas para apresentar os valores da Igreja,
porque é o povo que paga o preço desta guerra”.
“Os cristãos, para dizer a
verdade, estão divididos. A hierarquia na Síria é grata ao governo porque ele
sempre foi muito tolerante com a presença cristã e existe o medo de que alguns
setores da oposição sejam islâmicos demais. Os medos são claros, mas a igreja
tem que estar sempre perto desse povo dividido, tem que rezar pelo perdão, pela
esperança, pela unidade, e caminhar para um futuro melhor”.
Existe o medo de que um
ataque ocidental cause represálias contra os cristãos? “Não é o único medo, mas
é um medo claro. Nós temos que olhar para a história e ver que a intervenção no
Afeganistão não foi um sucesso, nem no Iraque. Por que ia ser melhor desta vez?
Nós temos que apoiar o diálogo, porque você pode invadir e assassinar todo
mundo, porque isso é a guerra. Nós queremos que todos os chefes do governo e a
oposição resolvam a situação de maneira pacífica”.
“Este foi um dos temas, mas
nós tratamos de muitos outros, sobre a vida pastoral dos nossos fiéis. Tivemos
reuniões com o cardeal Robert Sarah, presidente do Pontifício Conselho Cor
Unum, com o presidente do Pontifício Conselho para a Família, dom Paglia, que
falou de temas perpétuos da vida pastoral entre os nossos fiéis, a família, o
ano da Fé. E com o cardeal Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho
Justiça e Paz. O diálogo foi muito frutífero".
“O particular das nossas
igrejas é que elas vivem como minorias. A maioria vive em ambientes islâmicos.
Os meus fiéis não vivem no meio dos muçulmanos, e sim da população judaica, mas
nós também somos uma pequena minoria e temos que tentar viver a nossa fé de
modo coerente. Estamos abertos ao diálogo ao nosso redor e também ao diálogo
ecumênico, com outras minorias cristãs”.
FONTE: ZENIT
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