Tu és Pedro
Reflexões espirituais de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará
BELEM, terça-feira, 26 de junho de 2012 (ZENIT.org) - Há dois anos, poucos meses depois de ter assumido a Arquidiocese de Belém, apresentei-me ao Papa Bento XVI, de quem recebi o Pálio, sinal de comunhão profunda com o seu ministério apostólico, para o exercício do episcopado à frente desta Igreja e para ser sinal de unidade na Província Eclesiástica de Belém, que compreende as circunscrições eclesiásticas dos Estados do Pará e Amapá. Naquela ocasião, junto com os outros Arcebispos nomeados no ano precedente, proferi o juramento de fidelidade estrita ao ministério petrino que se realiza pela presença, ação e testemunho do Santo Padre. De lá para cá, foram muito maiores as alegrias do que as eventuais tristezas. Os frutos do serviço pastoral dos presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, pessoas consagradas a Deus e de todo o Povo de Deus, têm sido abundantes, na formação de comunidades vivas de Igreja e na desafiadora tarefa de levar o Evangelho aos que estão ou se sentem mais distantes, os preferidos de Deus.
A Solenidade de São Pedro e São Paulo oferece-nos a oportunidade para
reconhecer publicamente o ministério exercido por Bento XVI, à frente da Igreja
de Roma, “que preside a caridade” (Santo Inácio de Antioquia). Trata-se de um
Pontífice privilegiado pelos dons de inteligência e sabedoria com que foi
prodigalizado por Deus. Tanto os fiéis católicos como pessoas de outras
confissões cristãs ou de outras religiões, e ainda homens e mulheres de
convicções diferentes, inclusive ateus, reconhecem nele um sinal precioso para
a Igreja e o mundo. Temos o direito de experimentar a santa vaidade de ter um
Papa para o nosso tempo, decidido, corajoso e forte, objetivo em seus
ensinamentos, que confirma os irmãos na fé.
Continua verdadeira a promessa de Jesus a Simão Pedro: “Tu és Pedro e
sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá
vencê-la” (Mt 16,18). A certeza da assistência do Espírito Santo ao Papa não o
faz um super-homem, mas põe sua humanidade a serviço de Deus e de sua Igreja. O
ministério que exerce pede força e ternura, aliadas para fazer o bem e
orientar, com a verdade do Evangelho, o caminho da barca que lhe foi confiada
pelos mares agitados.
Há poucos dias, realizou-se em Milão, na Itália, o VIII Encontro Mundial
das Famílias com o Papa. Num profundo diálogo com famílias de várias partes do
mundo, respondeu a perguntas muito provocantes. Uma delas foi feita por um
casal brasileiro, Maria Marta e Manoel Ângelo, que tocaram num assunto delicado
e importante, com uma resposta forte e cheia de ternura. “Santidade, em nosso
Brasil, como, aliás, no resto do mundo, continuam a aumentar os fracassos no
matrimônio. Encontramos muitas famílias, notando nos conflitos de casal uma
dificuldade mais acentuada de perdoar e de aceitar o perdão, mas em vários
casos constatamos o desejo e a vontade de construir uma nova união, algo
duradouro, mesmo para os filhos que nascem da nova união. Alguns destes casais
recasados teriam vontade de aproximar-se da Igreja, mas, quando lhes são
negados os Sacramentos, sua decepção é grande. Sentem-se excluídos, marcados
por um juízo sem apelo. Estas grandes penas magoam profundamente aqueles que
nelas estão envolvidos; são feridas também nossas e da humanidade inteira.
Santo Padre, nós sabemos que a Igreja leva no seu coração estas situações e
estas pessoas. Que palavras e sinais de esperança podemos dar-lhes?”
As palavras do Papa podem chegar a muitos corações e manifestam o
exercício de seu ministério: “Queridos amigos, obrigado pelo seu trabalho a
favor das famílias, sem dúvida muito necessário. Obrigado por tudo o que fazem
para ajudar estas pessoas que sofrem. Na verdade, este problema dos divorciados
recasados é um dos grandes sofrimentos da Igreja atual. E não temos receitas
simples. O sofrimento é grande, podendo apenas animar as paróquias e as pessoas
a ajudá-los a suportarem o sofrimento do divórcio. Digo que é muito importante,
naturalmente, a prevenção, isto é, aprofundar desde o início o namoro e o
noivado numa decisão profunda e amadurecida. Além disso, o acompanhamento
durante o matrimônio, de modo que as famílias nunca se sintam sozinhas, mas
sejam realmente acompanhadas no seu caminho. Depois, quanto a estas pessoas,
devemos dizer que a Igreja as ama, mas elas devem ver e sentir este amor.
Considero grande tarefa duma paróquia, duma comunidade católica, fazer todo o
possível para que elas sintam que são amadas, acolhidas, que não estão “fora”,
apesar de não poderem receber a absolvição nem a Comunhão: devem ver que mesmo
assim vivem plenamente na Igreja. Mesmo se não é possível a absolvição na
Confissão, não deixa de ser importante um contato permanente com o sacerdote,
com um diretor espiritual, para que possam ver que são acompanhadas e guiadas.
Além disso, é muito importante também que sintam que a Eucaristia é verdadeira
e participam nela se realmente entram em comunhão com o Corpo de Cristo. Mesmo
sem a recepção “corporal” do Sacramento, podemos estar, espiritualmente, unidos
a Cristo no seu Corpo. É importante fazer compreender isto. Oxalá encontrem a
possibilidade real de viver uma vida de fé, com a Palavra de Deus, com a
comunhão da Igreja, e possam ver que o seu sofrimento é um dom para a Igreja,
porque deste modo estão ao serviço de todos mesmo para defender a estabilidade
do amor, do Matrimônio; e que este sofrimento não é só um tormento físico e
psíquico, mas também um sofrer na comunidade da Igreja pelos grandes valores da
nossa fé. Penso que o seu sofrimento, se é realmente aceito interiormente,
torna-se um dom para a Igreja. Devem saber que precisamente assim servem a
Igreja, estão no coração da Igreja. Obrigado pelo compromisso de vocês”. Dentre
tantas outras manifestações da misericórdia e da verdade, esta palavra segura
do Papa alcance tantos casais que clamam por uma resposta da Igreja e querem
estar fundados na rocha que é Pedro.
Nesta luz podemos pedir a Deus, que nos concede a alegria de festejar
São Pedro e São Paulo, que a Igreja siga em tudo os ensinamentos dos apóstolos
que nos deram as primícias da fé.
FONTE: ZENIT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário